Eu acredito no poder da educação e em pessoas engajadas e apaixonadas por essa causa por que fui uma das impactadas e quero poder fazer o mesmo por outras pessoas.
Eu nasci e cresci no “Banhado”, uma favela de São José dos Campos, meu pai era da baixada fluminense, trabalhou desde cedo em atividades como vendedor de picolé, servente, por último trabalhou como porteiro. Minha mãe era de uma cidadezinha de Minas onde trabalhou desde criança na colheita do café, quando cresceu ela trabalhou como emprega doméstica. Apesar de pouco estudo eles sabiam da importância da educação e sempre incentivaram. Minha mãe gostava de matemática e me ajudava nas tarefas da escola, eu adorava ver as “continhas” e as anotações de orçamento dela, hoje vejo como eram difíceis a administração e o planejamento financeiro, ainda mais com 4 filhas e pouca renda.
Eu tive a oportunidade de ser beneficiada por alguns projetos sociais, um deles foi a FUNDHAS no qual fiquei dos 8 aos 18 anos, as atividades da fundação iam desde ajudar com as tarefas da escola, aulas de dança, artes, música, informática, até cursos profissionalizantes e inserção no mercado de trabalho. Nessa fundação fiz curso profissionalizante de Auxiliar Administrativo e por meio dela trabalhei na Secretaria de Transportes de São José dos Campos e passei em uma escola técnica.
No técnico eu conheci e após ingressei no CASD um curso pré-vestibular para pessoas de baixa renda administrado por alunos do ITA. Nas aulas, os voluntários não só transmitiam conhecimento, mas também a paixão pelo o que estavam fazendo, como acreditavam nos alunos e como queriam fazer a diferença na vida deles. Estudei em escola pública e precisava aprender bastante coisa em pouco tempo para ingressar na faculdade e trabalhando ao mesmo tempo seria mais difícil. Minha mãe me apoiou a não trabalhar naquele ano porque era melhor não ter dinheiro naquela época, do que não me formar e ganhar sempre menos do que poderia. Ela riscava coisas do orçamento e fazia “bicos” aos sábados para me dar o dinheiro da passagem para ir as aulas.
Fiquei em dúvida sobre qual curso escolher, gostei da parte de finanças que tive no técnico, sabia que gostava de matemática, da área social, queria incentivar e mudar a vida das pessoas, principalmente, as pessoas com menos condições financeiras. Nessa época vi uma palestra sobre economia e fiquei apaixonada pelo curso, queria entender e combater pobreza. Passei no curso de Ciências Econômica da Universidade Federal de São Paulo, mudei para Osasco, recebia bolsa para moradia e alimentação, fiz iniciação científica e essas rendas me ajudaram a me manter na faculdade, apesar de algumas dificuldades financeiras e em relação aos lugares que morei, no final deu certo, me formei e vi que o que realmente combate pobreza é a educação.
Hoje trabalho na área de Planejamento Financeiro em uma multinacional, gosto da área, mas queria retribuir a ajuda que tive e ajudar em uma causa em que acredito, por isso, comecei a pesquisar na internet sobre ONGs que se importavam com pessoas de baixa renda, que acreditavam na educação e que tivessem relação com a minha formação. Pesquisando, encontrei a ONG do Bem Gasto que é dá aulas de educação financeira para pessoas de baixa renda. Além de acreditar na causa e importância, eu poderia dar aulas que é algo que me interessava, já quis ser professora um dia e brincava de dar aulas quando era criança.
Ingressei na ONG Bem Gasto há pouco tempo e fiquei feliz, vi pessoas com histórias sensacionais e engajadas na causa. Fui como “monitora” em uma aula, fiquei apaixonada! Os alunos estavam muito interessados, felizes por estarem recebendo aquele conhecimento, era algo novo para eles e “os seus olhos brilhavam”. Então eu tive a certeza de que estava no lugar certo. Espero poder ajudar a ONG e as pessoas de baixa renda porque eu acredito na educação, no uso consciente do dinheiro e na utilização dele em favor das pessoas, ou seja, na realização dos seus sonhos. Espero que esse seja só o começo da minha doação, afinal, eu fui impactada por pessoas que acreditavam no poder da educação e sei que o futuro de muitas pessoas seria diferente se elas fossem impactadas positivamente.