Foi difícil a despedida dos amigos no Torrão do Matapi, comunidade Quilombola de Macapá, no Amapá e depois a despedida em Castanhal no Assentamento João Batista no Pará depois de algumas horas de voluntariado nas Bibliotecas da Associação Vaga Lume onde participo como voluntária no conselho consultivo desde 2010. Debater estratégias de captação, dar apoio a direção na gestão e nas tomadas de decisão é tarefa que exige dedicação e comprometimento como qualquer outra atividade voluntária. Mas a oportunidade de estar lá, junto de outros voluntários traz novo olhar e novas perspectivas para meu trabalho voluntário.
A literatura, as expedições, os encontros de formação e o intercâmbio cultural são as ferramentas que a Vaga Lume utiliza para promover a expansão da visão de mundo de crianças e adultos. Sai agradecida pela oportunidade de tanto aprendizado e cada vez percebo mais o quanto o voluntariado nos transforma e nos enriquece.
A Vaga Lume é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2001, a partir da crença de que o investimento em pessoas é a melhor estratégia para a transformação de uma realidade. Desenvolve projetos de educação, cultura e meio ambiente a partir do trabalho voluntário em 22 municípios na região da Amazônia Legal brasileira, que compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Desde 2002, foram criadas mais de 86 bibliotecas comunitárias Vaga Lume. Ao longo desses anos, muitas histórias foram lidas e vividas nessas bibliotecas. Algumas trocaram de lugar, outras apenas mudaram de nome, receberam livros novos, algumas fecharam e em outras as equipes de mediadores de leitura se mudaram. Um equipamento cultural como uma biblioteca, quando é comunitário, é apropriado pela comunidade e passa a funcionar de acordo com suas características. Portanto, cada uma das bibliotecas Vaga Lume funciona de maneira diferente, de acordo com a gestão comunitária feita pelos voluntários. As Bibliotecas Vaga Lume têm algo em comum além da alegria, tem a escolha criteriosa e muito séria do acervo e ainda as capacitações dos mediadores de leitura e dos gestores, mais de 4.800 já foram formados. O programa Vaga Lume promove o acesso ao livro e à leitura por meio da metodologia que inclui três ações interconectadas: a doação de estrutura para bibliotecas comunitárias, a formação de voluntários como mediadores de leitura e o incentivo à gestão comunitária da biblioteca.
O voluntariado é o que faz com que as Bibliotecas permaneçam vivas dentro das comunidades. Faz com que acervo e atividades se integrem e onde mais do ensinar e aprender seja um espaço de construir pontes, intensificar o intercâmbio com todos da comunidade, criando novas iniciativas e ampliando o alcance de suas ações: formar mediadores de leitura, contar histórias, coletar histórias, registrar histórias, criar histórias…
Foram apenas algumas horas, um dia de atividade voluntária, mas preencheu meu coração de alegria e de muito orgulho de fazer parte da Associação Vaga Lume. Aconteceu no estado do Amapá, em Macapá, na Biblioteca da Escola Estadual Professor Antônio Figueredo da Silva na comunidade do Torrão do Matapi! Na comunidade rural há produção de farinha, hortifrutigranjeiros, criação de pequenos animais, criação de abelhas, produção de mel e própolis. A comunidade é quilombola e mantém as tradições da cultura africana. Nas festas culturais são apresentadas a dança afro-brasileira Marabaixo e o Batuque. O esporte também é incentivado, como a capoeira e o futebol. A biblioteca também contribui para difundir essa cultura. Quem cuida de tudo na Biblioteca Vaga Lume do Torrão é a voluntária Teca que tem verdadeira paixão pelo que faz! Cada livro, cada cantinho da sala ocupado pela biblioteca tem um sinal de todo carinho e dedicação de quem ama o que faz. A Biblioteca Vaga Lume é utilizada pelas crianças da escola, pelos adultos dos cursos noturnos de alfabetização e ainda pela comunidade. Foi um voluntariado especial: além da entrega de mais livros enviados pela Vaga Lume pude participar junto com outros voluntários de um dia de mediação de leitura com as crianças.
Esse desejo de participar e fazer algo é uma resposta que está dentro do coração de cada pessoa que decide fazer o trabalho voluntário. Lá vou eu para outra aventura com a Vaga Lume, desta vez para uma atividade voluntária no Pará, na biblioteca da Escola Roberto Remigi no assentamento João Batista, município de Castanhal, a cerca de 70 km de Belém. A biblioteca atende, além dos 165 alunos, 157 famílias da comunidade. A biblioteca promove diversas ações, dentre elas, mediação de leitura na escola e nas residências, produções artísticas (teatro, música, poesia e dança), roda de histórias e produção de livros artesanais. Desta vez participei da oficina de formação de mediadores de leitura. Oportunidade de reciclagem para os que já participam e também de capacitar novos voluntários.
Todos nós temos inúmeras habilidades que usamos em nosso trabalho e também em nossas atividades da casa e no lazer. Nós podemos levar esses talentos para o voluntariado, pois afinal de contas, tudo aquilo que se faz bem, pode fazer MUITO bem para alguém! A oficina é muito dinâmica, com jogos, e debates fazendo com que todos se conheçam e reconheçam o comprometimento, responsabilidade, assim como seus direitos e deveres como voluntário. Acontece também uma parte técnica de mediação de leitura e contação de histórias.
Quero dizer que ser voluntária também me fez uma doadora de recursos financeiros para a Associação, Vaga Lume. Acompanhar de perto todo trabalho realizado me dá confiança e tranquilidade de contribuir para mais e mais vagalumes iluminando a nossa Amazônia com a luz da educação e da leitura.
Recebi muito mais do que ofereci. Não só o carinho das pessoas, mas a gigantesca oportunidade de estar em um lugar mágico, com pessoas generosas, sábias e boas!